Conto: Entre o Leão e o Unicórnio - Marina Colasanti


Hola Girl, hoje eu troce um conto que minha professora de literatura leu na classe para a gente, eu gostei muito sendo mais clara eu AMEI, ele é de uma escritora que eu não conhecia e que estou extremamente apaixonada porque minha professora deixou eu dar uma olhadinha nos livros delas e sinceramente não entendo como a Marina pode ter uma mente tão brilhante. Espero que que vocês leiam todo o texto por que apesar de ser um pouco longo ele é PERFEITO já digo logo que a surpresa vem no final hahaha

ENTRE LEÃO E UNICÓRNIO

No meio da noite de núpcias, o rei acordou tocado pela sede. Já ia se levantar, 
quando junto à cama, do lado da sua recém-esposa, viu deitado um leão. 

- Na certa - pensou o rei mais surpreso do que assustado -, estou tendo um 
pesadelo. 

E mudando de posição para interromper o sonho mau, deitou a real cabeça sobre o 
real travesseiro. Em seguida, adormeceu. 

De fato, na manhã seguinte, o leão havia desaparecido sem deixar cheiro ou rastro. E 
o rei logo esqueceu de tê-lo visto. 

Esquecido ficaria, se dali a algum tempo, acordando à noite entre um suspiro e um 
ronco, não deparasse com ele no mesmo lugar, fulvo e vigilante. Dessa vez, custou 
mais a adormecer. 

Quando a rainha despertou, o rei contou-lhe do estranho visitante noturno que já por 
duas vezes se apresentara em seu quarto. 

- Oh! Senhor meu marido - disse-lhe esta constrangida -, não ousei revelar antes do 
casamento, mas desde sempre esse leão me acompanha. Mora na porta do meu 
sono, e não deixa ninguém entrar ou sair. Por isso não tenho sonhos, e minhas noites 
são escuras e ocas como poço. 

Penalizado, o rei perguntou o que poderia fazer para livrá-la de tão cruel carcereiro. 

- Quando o leão aparecer - respondeu ela -, pegue a espada e corte-lhe as patas. 

Naquela mesma noite, antes de deitar, o rei botou ao lado da cama sua espada mais 
afiada. E assim que abriu os olhos na semi-escuridão, zac! Decepou as patas da fera 
de um só golpe. Depois, mais sossegado, retomou o sono. 

Durante algum tempo dormiu todas as noites até de manhã, sem sobressaltos. Mas numa madrugada quente em que os edredons de pluma pareciam pesar sobre seu 
corpo, acordando todo suado viu que o quarto real estava invadido por dezenas de 
beija-flores e que um enxame de abelhas se agrupava na cabeceira. Depressa cobriu 
a cabeça com o lençol, e debaixo daquela espécie de mortalha atravessou as horas 
que ainda o separavam do nascer do dia. Só ao perceber o primeiro espreguiçar-se da 
rainha, emergiu de dentro da cama, contando-lhe da bicharada. 

-É que dormindo ao seu lado, meu caro esposo, cada vez mais doces e mais floridos 
se fazem meus sonhos - explicou ela, sorrindo com ternura. 

E ele, desvanecido com tanto amor, pousou-lhe um beijo na testa. 

Muitos meses se foram, tranqüilos. 

Porém uma noite, tendo jantado mais do que devia à mesa do banquete, o rei acordou 
em meio ao silêncio. Levantou-se disposto a tomar um pouco de ar no balcão, quando, 
caracoleando sobre o mármore real do aposento, viu aproximar-se um unicórnio azul. 

Não ousou tocar animal tão inexistente. Não ousou voltar para cama. Perplexo, saiu 
para o terraço, fechou rapidamente as portas envidraçadas, e encolhido num canto 
esperou que a manhã lhe permitisse interpelar a rainha. 

- É a montada da minha imaginação - escusou-se ela. - Leva meus sonho lá onde eu 
não tenho acesso. Galopa a noite inteira sem que eu tenha controle. 

Tão bonito pareceu aquilo ao rei, que na noite seguinte, quer por desejo, quer por 
acaso, no momento em que a mulher adormeceu, ele acordou. Lá estava o unicórnio 
com seu chifre de cristal, batendo de leve os cascos, pronto para a partida. Desta vez 
o rei não temeu. Levou-lhe a mão ao pescoço, alisou o suave azul do pêlo, e de um 
salto montou. 
Unicórnios de sonho não relincham. Aquele levantou a cabeça, sacudiu a crina, e 
como se pisasse nos caminhos do vento, partiu a galope. 

Galoparam a noite toda. Mas antes que o sol nascesse, quando a escuridão apenas 
começava a derreter-se no horizonte, os cascos mais uma vez pousaram no mármore. 
E a real cabeça deitou-se no travesseiro. 

-Sonhei que vossa majestade fugia com a montada de minha imaginação - disse a 
rainha ao esposo, de manhã. - Mas estou bem contente em vê-lo agora aqui ao meu 
lado - acrescentou numa reverência. 

O rei, porém, mal conseguia esperar pelo fim do dia. Tão rica e vasta havia sido a 
viagem, que só desejava montar novamente naquele dorso, e, azul no ar azul, 
descobrir novos rumos. Pela primeira vez as tarefas da coroa lhe pareceram pesadas, 
e tediosa a corte. Da rainha, só desejava que, rápido, adormecesse. 

E a cada noite, mais diferente ficou. 

Já não queria guerrear, nem dançar nos salões. Já não se interessava por caçadas ou 
tesouros. Trancado sozinho na sala do trono durante horas, pensava e pensava, 
galopando na lembrança, livre como o unicórnio. 

Ressentia-se porém a rainha com aquela ausência. Doente, quase, de tanta 
desatenção, mandou por fim chamar a mais fiel de suas damas de companhia. E em 
grande segredo deu-lhe as ordens: deveria esconder-se debaixo da cama real, cuidando para não ser vista. E ali esperar pelo sono da rainha. Tão logo esta 
adormecesse, veria surgir um leão sem patas. Que não temesse. Pegasse as patas 
que jaziam decepadas à sua frente, e, com um fio de seda, as costurasse no lugar. 

Tendo obtido da moça a promessa de que tudo faria conforme o explicado, deitou-se a 
rainha logo ao escurecer, pretextando grande cansaço. No que foi imediatamente 
acompanhada pelo rei. 

Custava porém o sono a chegar. Virava-se e revirava-se o casal real sobre o colchão, 
enquanto embaixo a dama de companhia esperava. E de tanto esperar, o sono 
acabou chegando primeiro para ela que, sem perceber, adormeceu. 

Acordou noite alta, quando há muito o unicórnio tinha vindo buscar o seu ginete. 
Assustada, não querendo faltar com a promessa e ouvindo o ressonar da rainha, 
rastejou para fora da cama. Lá estava o leão, deitado e imóvel. Lá estavam as patas à 
sua frente. Rapidamente pegou a agulha enfiada com longo fio de seda, e em pontos 
bem firmes costurou uma pata. Depois a outra. 

Leões de sonho não rugem. Aquele levantou a cabeça, sacudiu a juba e firme sobre 
as patas retomou a sua tarefa de guardião. Nenhum sonho mais sairia das noites da 
rainha. Nenhum entraria. Nem mesmo aquele em que um unicórnio azul galopava e 
galopava, levando no dorso um rei para sempre errante.

- Marina Colasanti

Bom espero que tenham gostado e principalmente entendido =D 
Beijos e até o próximo post! 

2 comentários:

Laisa disse...

Nossa, amei. Muito legal mesmo! >...<
~Bjokas :3
-http://garota-differente-laiih.blogspot.com.br

Unknown disse...

Ele é perfeito, pelo menos eu acho rsrsr
Que bom que gostou flor >.<
Volte sempre, beijos

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Sejam bem vindas ao blog! Sou a Mayume Yshikawa, 16 anos, apaixonada por make e livros. O blog vem com intuito de inspirar as minhas leitoras cada vez mais e escrever do que gosto. "Nunca deixem que abafe sua voz ou que destruam seus sonhos!"

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